terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pretérito imperfeito.

Passado: Que passou ou decorreu.

E dizem que o tempo leva ... mas dessa vez não levou, e tão pouco curou. Tentava dar passos mais largos para sair depressa desse labirinto, mas quanto mais eu ensaiava dar uma corridinha, mais eu ficava presa na areia movediça do que passou.
Na impossibilidade de ficar eternamente enterrada nesse passado decidi parar um pouco de caminhar e me encostei numa árvore imensa ... os galhos eram tão grandes que davam a impressão de que iam me abraçar, aaaah que carinho. Naquele momento senti que alguém podia me entender, me abraçar, me acolher. E que eu podia ser igualzinha aquela árvore, que o tempo leva as suas folhas, mas em outra estação tráz outras novinhas, mas como toda a natureza tudo tem o seu tempo.
E qual é o meu tempo?
Naquela tarde gostosa de primavera, com ventinho de outono, nuvens carregadas de inverno e necessidade de uma sombrinha como no verão ... me confortei naquela árvore. Mas me vinham tantos pensamentos impensados, parecia que eu não podia parar um minuto a minha mente, que ela agia sozinha, e trazia coisas de dentro de mim que eu não queria sentir agora.
Pra que reviver uma coisa no presente se a dei como morta num passado?
Pois é ... mas como toda mudança, essa não deveria ser diferente, deveria ter sido feita de dentro pra fora, mas não! Externamente cavei um buraco e joguei o que queria nele e enterrei. Mas de onde eu deveria ter tirado eu não tirei...ai meu coração! Aquela chama ainda queimava lá no fundo, e era triste saber que quem colocou fogo foi eu mesma.
Como num conto, meu corpo inteiro ardia, eu conseguia ver as chamas vindas de meu coração passar para todo o meu corpo e ainda atingir a inocente árvore.
Tudo em chamas, mas nada se derretia. De repente aquela nuvem carregada fez seu trabalho ... um temporal, torrentes de água! Mas nada conseguia apagar aquele fogo que fisicamente não fazia mal.
Em cada faísca que saía daquela chama eu via um devaneio. Tudo o que eu achei que estava morto batia alí em minha porta, e sem querer pensar, sem querer argumentar, sem querer abrir os olhos pra realidade eu conseguia reviver aquilo tudo. Cada momento, cada afago, cada cumplicidade, cada .. cada ...
Como num "efeito borboleta" eu tentava mudar o que eu já tinha feito, pra consertar meu presente e esboçar meu futuro, mas era tarde, muito tarde. Nem o Escritor passa corretivo em um capítulo para mudar o final da história, bastava eu me conformar.
E com a certeza de que essa minha viagem não daria em nada, só em dor e em mais sofrimento eu tentava conseguir manipular pelo menos o pause da minha história, foi em vão!
Novamente um temporal, mas dessa vez de lágrimas, e me debatia contra o chão pra ver se aquele pesadelo real de recordações acabava, mas não! Fui obrigada a ser a protagonista da história de novo, tudo reprise. E num súbito final, uma única lágrima escorria e então eu pude abrir os olhos daquele pesadelo.
"Por aqui" tudo do jeito que eu tinha deixado, que pena ... daria tudo pra viver aquilo de novo, de forma diferente ... intensamente cada segundo ...
Tenho certeza de que isso nunca vai me deixar .. serei eternamente escrava desse sentimento.
Ainda naquela sombrinha, dei um abraço na minha amiga árvore pedi desculpa pelas chamas, mas ela estava intacta. No céu, estrelas piscavam como vagalumes...chegava mais uma noite sem pena de mim. Sem pena daquele momente de reflexão antes de fechar os olhos para dormir, que iriam, como todos os dias da minha vida, me fazer reviver aquilo tudo de novo, mas só no imaginário, e mais uma vez ver que quem errou foi eu ...

" O pior passado é aquele que vive presente dentro de nós. "


Escrito por: Paula Marini

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